Educação | César Nunes

O Direito de Aprender na Escola

César Nunes

Toda criança aprende. A condição humana é aprendida. Há alguns equívocos muito presente nas tradições educacionais e pedagógicas atuais, a maioria deles sustentados por uma concepção inatista de aprendizagem. Fundamenta-se no pressuposto de que já nascemos com certas disposições para aprender ou não. Isso gera controvérsias e complexidades: alguns teriam as “capacidades” de aprendizagem, outros e outras não “teriam” estas qualidades, seriam “ausentes ou lacunares”.

Para nossa concepção de educação os chamados bloqueios de aprendizagem devem ser analisados em sua totalidade, muito mais como um problema da tradição pedagógica autoritária e da forma conservadora de organizar a escola e o currículo do que uma suposta “falha” da criança e do adolescente. Hoje, a ditadura da sociedade tecnológica, a apelação consumista, a exposição banal da sexualidade, a raridade de espaços humanizadores, a lacuna na formação artística, teatral, musical, nas artes plásticas, faz com que a indústria cultural seja um grande poluente sonoro e visual, chegando aos corações e mentes das crianças, sem os necessários filtros dos pais, sem dispositivos de crítica da proposta pedagógica da escola, na direção de mostrar outra música, outro repertório, outras brincadeiras, outras danças etc.

Criar espaços de humanização, de exposição serena das crianças a outras coordenadas antropológicas, a outra atmosfera de sentido, outra música, de outra arte, de alegria, de teatro, de conversas, ajudam muito a “desbloquear” qualquer pessoa!  A escola, para mim, deve ter clareza de ser contraponto, competente e lúcido, à indústria cultural alienante e consumista. Mostrar os grandes mestres e mestras da humanidade, neste tempo especial de aprender, é um trunfo inaudito! O conhecimento sensível e a sensibilidade esclarecida são os condutores do afeto e da lucidez crítica. Ensinar a pensar e a sentir!

Não gosto muito de comparações espúrias, cada nação tem sua identidade e suas escolas. Mas, preciso reconhecer que algumas experiências históricas nos auxiliam a perceber a dinâmica da educação, moderna e contemporânea. As melhores escolas do mundo, da Finlândia, não tem a prática de mensuração e de classificação das crianças estritamente por notas, sobretudo concebidas como aquelas medidas que supostamente refletem a busca de rendimento individual e competitivo. A pedagogia ali dominante está focada na aspiração de que todas as crianças desenvolvam-se em sua faixa etária, a seu tempo e  plenamente integradas ao seu grupo, etário, sócio-afetivo, psicológico e cognitivo; portanto, compreendidas num projeto de articulação grupal, social, coletivo. As crianças são estimuladas a reagirem  a um currículo flexível e pluralista, num arco de possibilidades que engloba o rendimento de todas elas, na pluralidade do grupo, com diferentes tempos, com diversidade de apropriação e absorção. Há uns que prestam maior atenção a uma determinada forma de estimulação didática, outras desenvolvem diferentes reações, mas hoje as crianças desenvolvem plurissintonias, isto é, estão “ligadas” como as próprias multimídias que constantemente acessam, muitas vezes. Eu quero acreditar que todos os seres humanos, todas as pessoas são capazes de aprender; que os estímulos escolares, as aulas, os estudos, as pesquisas, as exposições, a vivência nos grupos, os debates, as conversas, os fatos do cotidiano, enfim, são diversos e podem ser apropriados de diferentes maneiras pelas crianças.

A maior motivação para a aprendizagem vem de imperativos éticos e estéticos de convencimento, realizados com profundidade pelos pais e pela escola. A educação escolar, a leitura, são exemplos que derivam da família. Uma família que não tem livros, pais que nunca leem, que só ficam nos celulares, consumindo tudo o que a indústria cultural oferece, produzirão filhos e filhos desta identidade: hedonistas, consumistas, exibicionistas. Pais que saem com os filhos para os parques da cidade, que visitam sítios, museus, parques ecológicos, teatros, zoológicos, espaços de preservação do patrimônio artístico e cultural, que viajam para Inhotim, por exemplo, e apreciam um museu a céu aberto, que vão a Ouro Preto e absorvem a beleza desta cidade, tombada como patrimônio da humanidade, que visitam Goiás Velho e se enternecem na casa de Cora Coralina, como outro exemplo, dizem muitas coisas a seus filhos. Mais do que ir a Disney e Orlando, somente. Não critico quem vá a estes lugares. Mas fazer destes lugares o protótipo de lazer e turismo é para mim um sinal de pobreza cultural. Prática e sentido que igualmente as crianças aprendem com facilidade. As crianças tendem a reproduzir o universo familiar!

E, por fim, acredito que todas as crianças são capazes plenamente de aprender! Precisamos superar os ritos classificatórios e meritocráticos tradicionais. Eu já tive exemplos de superação exemplar e admirável. Os pais e professores podem começar avaliando o contexto pleno da criança, seu mundo, seus estímulos, internos e externos, ouvindo suas queixas, aceitando suas versões, buscando superar as contradições que levam a aquele resultado. Relativizar as notas escolares, hoje, pode ser um bom começo;  depreende-se que a nota é resultante de uma estrutura baseada na memória e na retenção de informação. Ora, tomada estritamente, esta suposta qualidade mnemônica assemelha-se ao depositário de um “chip”, que está disponível na internet, o Google sabe mais de quantidade ou volume de informação do que a escola etc. A Escola que eu sonho é mais do que informação e memória, é aquela capaz de transformar a informação em algo subjetivo, agradável, pertinente, com sentido! Isto é o que se designa como aprendizagem significativa, que guarda sentido para a criança, para seu universo, para seu mundo. E dele, como sujeito, a criança poderá alçar aos mais longínquos horizontes.

Conversas Sinceras entre Família e Escola sobre Educação.

A família e a escola são os universos matriciais da humanização, do desenvolvimento humano, social e subjetivo, das crianças e adolescentes. Tanto a família quanto a escola precisam acreditar que o exemplo é a melhor prática educativa. Não adiantará muito, nos dias de hoje, fazer discursos e sermões para os estudantes, ou ainda fazer preleções para os filhos sobre as coisas, sem o devido acompanhamento da coerência e da verdade. Para ser educador, para entender o papel de pais e mães educadores, para se tornar e ser reconhecido como um professor-educador, é preciso ser verdadeiro, estar convencido de alguns princípios e agir como exemplo vivo. Se os pais exigem leituras, a melhor forma de educar é sentar junto com os filhos e ler com eles um livro, contar estórias, conversar, brincar. Exigir que as crianças leiam e nunca ser visto em práticas de leitura é um dos exemplos clássicos de incoerência. E se torna o paradigma de outras atitudes. Nossos estudantes gostam de ver as pessoas sinceras e comprometidas com as causas da sustentabilidade ambiental, do compromisso social e da ética. Desse modo, estes princípios tem que estar no projeto pedagógico da escola, no dia-a-dia, nas práticas de acolhimento e de convivência entre os mestres, dos mestres com os estudantes e entre os próprios estudantes. A escola que ensina e prepara os seus estudantes para compreender o mundo do trabalho, da política e da cultura, e convoca a todos para darem sua palavra e contribuição.Só uma geração de professores e gestores humanizados, críticos, sensíveis e participativos produzirá uma geração de estudantes sensíveis, críticos e humanizados! A prática pedagógica cotidiana nos educa! Eu gosto de uma música do lendário grupo musical Legião Urbana que diz: “Você culpa os seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você!” Eu acredito que os pais, eu também sou pai, foram formados sobre determinadas regras de conduta, sobre algumas expectativas de comportamentos mais rígidas, próprias de sociedades pré-capitalistas, e que hoje tenhamos todos que aprender juntos, nessa nova realidade social e cultural. Muito há que se aprender hoje, entre as gerações, e nós, professores e pais, temos que ter a grandeza e a coragem de conversar com nossos filhos e sinceramente aprender deles e com eles! A grande e inalienável tarefa da família é a de amar e acolher seus filhos e filhas. A grande lição da escola é a de dar continuidade a essa experiência gratuita de amor e de acolhimento, com a conseqüente função de entronizar a criança e os adolescentes no mundo da cultura, na convivência com os diferentes, na ampliação do universo familiar.

A escola, para ser um agente de humanização, tem que ter relações orgânicas com a família e com a sociedade. Há diferentes papeis e diferentes funções formativas entre a família e a escola, embora ambas contribuam e se articulem na formação da criança e do adolescente, na produção plena da pessoa humana. Não deve a família terceirizar para a escola  as funções e as bases educacionais que são de sua responsabilidade, tais como a formação moral,  a educação ética e a integração social de seus filhos. À escola cabe formar  a criança na continuidade da formação familiar, com ênfase na aquisição de conhecimentos, nas atitudes e nas condutas, nas posturas pessoais e coletivas diante dos fenômenos institucionais e vivenciais, cabe à escola solidificar os valores, acentuar e legitimar as práticas de solidariedade, de responsabilidade, de sustentabilidade, mas o lugar do nascimento e o reforço estrutural dessas práticas é a família. E, de algum modo, é também a sociedade, os seus espaços e as suas expressões, que atuam num processo coadjuvante de formação da criança e dos adolescentes iniciados na família e fortalecidos pela escola. Os pais podem (e devem) participar intensamente da vida educacional, cultural e escolar de seus filhos. Mas participar não é somente investir numa boa escola, cobrar os conteúdos ou manifestar atitudes similares. Participar é acompanhar plenamente o desenvolvimento de seus filhos, a partir de uma premissa de que é preciso acreditar que cada pessoa é uma versão única e original de da vida. Acompanhar seus filhos nessa apropriação da humanidade, ajudá-los no desenvolvimento de suas identidades e na formação de seu caráter, aceitar as características de seus filhos, reforçá-los em suas escolhas, apoiá-los em suas decisões! Os pais presentes na vida moral, cultural e educacional dos filhos são os luminares desses filhos!

Saber, conhecer, são valores socialmente muito importantes, mas tem que ser acompanhados de parâmetros éticos e políticos voltados para a promoção da vida, para a prática da liberdade, para o respeito às diferenças. Não posso ter uma presunção de que o saber esteja acima da vida, da igualdade humana. Não pode a erudição superar a sabedoria! É preciso formar as pessoas para aprender que a vida é o nosso penhor e graça, voltada para a busca da felicidade, como ensinava Aristóteles! Só há dois caminhos para a felicidade: a ética, cultivar valores pessoais e grupais, e a política, estabelecer consensos coletivos altruístas, elevados, inspiradores. Temos que aprender sobre as coisas, sobre o mundo, para sermos pessoas melhores, solidárias, sensíveis! Dizia Gandhi: Seja você o primeiro a realizar as mudanças que você deseja para o mundo! Os meios de comunicação de massa, hoje chamados de mídia, estão hoje num vertiginoso processo de transformação, de fusão e de ebulição criativa. São múltiplas suas fontes e formas. Mas, a despeito do reconhecimento da grandeza da Internet, dos utensílios de manejo digital pluralista (rádios, fotos, imagens, jogos, arquivos) isso não pode ser um fim em si mesmos. Uma radical dependência desses objetos digitais que parecem mágicos pode tirar a pessoa da dinâmica da vida real. Saramago usou a célebre metáfora de Platão: “estão todos numa caverna, vendo o mundo às avessas!” Para mim essa tecnologia de informação e de comunicação, rica e diversa, não pode prescindir de um condicionamento ético, antes que tecnológico. Junto a tais parafernálias eletrônicas vem uma ansiedade de vencer, um senso de descartabilidade, uma sensação de poder e de manipulação que pode retirar importantes descobertas humanas da pauta cotidiana da vida. É preciso ter um senso ético para o domínio e não a dependência tecnológica descartável e rapidamente obsolescente. Trata-se mais de uma questão de formação, de diálogo, de debates, do que interdição ou imposição de limites.

César Nunes, Outono de 2016

A Educação Pública Paulista: improvisação, abandono e penúria

A história é um complexo de acontecimentos, dialéticos e contraditórios, da qual vamos buscando extrair sentidos, reconhecer as direções, extrair ou produzir justificativas ou explicações. A esfera dos acontecimentos, por sua vez, esconde as diferentes e diversas intenções, os sentidos, os plurívocos significados, os antagonismos dos agentes, dos atores e das próprias dinâmicas destes  protagonistas, envolvidos neste processo. Há a estrutural posição de classe, que define os lugares, os interesses e as intencionalidades veladas. Para decifrar a história é preciso manejar uma filosofia da história.

Neste sentido, é muito triste, pesaroso até, ver os acontecimentos que marcam o cenário recente da educação paulista. Não são os professores, nem os alunos, menos ainda os servidores da grandiosa rede paulista, os protagonistas desta incúria. O estado de São Paulo está, isto sim, em sua matriz governativa, como poucas vezes esteve, sem rumo, à deriva, sem projeto ou interlocução, na área da Educação. Prevalece um ranço tecnicista, um acento burocrático e autoritário, e um verniz produtivista neoliberal, enleados pela improvisação, pelo descuido e pelas  irresponsabilidades!

O descabido projeto de reorganização das escolas, levado a cabo por um governo insípido, a demissão do secretário estadual declarando ter “vergonha’ da estrutura educacional e escolar paulista, a corajosa e desesperada ocupação das escolas ameaçadas, tomadas pelos próprios alunos, para defendê-las,  mais de duzentas escolas, o enfrentamento com a polícia, a grotesca declaração do chefe de gabinete da SEE, na ocasião, usando a infeliz metáfora de um “estado de guerra” com os estudantes do ensino médio, as bombas de efeito moral, os atos e as atitudes bélicas, transformando a educação numa questão de “segurança” – tudo isso culminando na nomeação do ex-presidente do Tribunal de Justiça para a pasta da Educação estadual! Não teria bastado a humilhação aos professores, numa greve sem resposta, conduzida pela cínica burocracia governamental. Triste tirocínio, um desembargador na educação, sinal de pobreza de espírito, escárnio, violência simbólica, desrespeito franco e cabal, desconhecimento do mundo da educação, falta de projetos, falta de tudo! Duas coisas ainda me assustam mais, a questão do encaminhamento do Plano Estadual da Educação de São Paulo, o fechamento de mais de mil salas, silenciosa e paulatinamente, a asfixia burocrática e perversa da educação pública pelas medidas avaliativistas, estreitas e mercantilistas, e a vergonha da denúncia do suposto roubo,  do grau de corrupção mais absurda, da merenda escolar paulista!  Oh tempora, oh mores!

Meu Senhor! O que pode haver de mais trágico, de mais macabro e pernicioso do que este cenário? Um estado que ainda não finalizou seu Plano Estadual de Educação, pois o governo paulista desautorizou e sabotou o Plano feito pela própria Comissão, anteriormente nomeada, ao final de 2015. Comissão esta que coletara em audiências públicas a pauta do referido Plano, como deve ser a dinâmica democrática. São Paulo não tem ainda um Plano Estadual homologado e sufragado. Será praticamente um documento outorgado, como reza a infeliz tradição do autoritarismo, da arbitrariedade e do desmazelo!

O piso salarial dos professores do estado de São Paulo é o sexto pior salário entre os 26 estados e o distrito federal. Desorganização curricular e organizacional, desestruturação legal, pois o Estado não apresenta, em seus documentos e resoluções, nenhuma organicidade com os documentos matriciais do PNE (Lei 13.005/2014) ou das Diretrizes Curriculares Nacionais, diversas e polifônicas. Permanecem os discursos fragmentários, órfãos do PNE neoliberal  de 2001 ( Lei 10.172/2001) sobre “competências e habilidades”, ” empreendedorismo”, “avaliação por resultados”, “produtividade”, “desempenho”, “bonificação” etc. que fariam Theodor Schutz corar de vergonha, de tão banais e inautênticas formulações da teoria do capital humano. A educação paulista está vilipendiada. Seu estado de inanição e penúria, no início deste 2016, me faz entristecer e quase declinar, com pesar.  Mas a história não para. Os estudantes das escolas nos mostraram que o “novo sempre vem”. É hora de lucidez e de esperança para reverter este quadro! Bogdan Suchodolski me inspira, ao escrever: ” Se queremos educar os jovens de modo a tornarem-se verdadeiros e autênticos artífices de um mundo melhor é necessário ensiná-los a trabalhar para o futuro, a compreender que o futuro é condicionado pelo esforço do nosso trabalho presente, pela observação lúcida dos erros e das lacunas do presente, por um programa mais lógico da nossa actividade atual”.

O ano de 2016 e a Educação como direito subjetivo e social.

A educação básica do Brasil precisa ser prioridade nacional. O Plano Nacional de Educação tem 20 metas e 254 estratégias para a produção de um novo padrão de serviço público educacional e de uma nova vivência da educação escolar, como direito subjetivo e social. Não se trata mais de entender a educação como mediação para o trabalho ou para uma cidadania tutelada. A cidadania viva e real que aspiramos é aquela que nos engendra como pessoas, como seres sociais e culturais, plenos de direitos e da consciência deles.

Mas, nem sempre foi assim. A educação e a escola, no Brasil, ressentem-se de identidades autoritárias, plasmadas por formações econômicas e políticas de dominação, de inculcação ideológica e de padronização comportamental. Nossas matrizes culturais expressam este nicho estrutural. A escola só encontra as chaves de sua decifração na prática social. Não se explica a escola pela escola e seus regimentos, seu currículo, sua identidade institucional. Quem quiser decifrar a educação e a escola terá que estudar a sociedade que a definiu e a mantém.

A vivência, ainda que tênue e curta, de um novo processo social e político, inaugurada pela conquista do estado de direito, formalmente marcado pela promulgação da Carta Constitucional de 1988, já condensa uma nova configuração jurídica para nossa realidade brasileira. O Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, o Estatuto da Juventude, a Lei Brasileira da Inclusão, a Lei Maria da Penha, a conquista da obrigatoriedade da educação escolar de 04 a 17 anos, determinada pela Emenda Constitucional 59, o Plano Nacional de Direitos Humanos, o reconhecimento da União Estável de Pessoas do mesmo sexo, o casamento civil homossexual ou homoafetivo, as políticas de reparação, o reconhecimento da dignidade plena da condição do negro no Brasil, a política de proteção ambiental, a demarcação de terras indígenas e quilombolas, o Código Florestal Brasileiro, o Plano Nacional de Educação, com a indicação de 10% do PIB para o financiamento da educação brasileira, entre outros dispositivos, revelam a efervescente revolução jurídica e cultural engendrada no âmago da sociedade e da cultura de nosso país.

Eu prefiro ver a “terceira margem do rio”! Considero a realidade da política, levo em consideração a dinâmica da economia, mas, para mim, a sociedade civil brasileira se estrutura sobre uma nova base: o direito de todos, a tolerância, a diversidade, o “ethos” republicano. Esta mudança se dá em cada embate cotidiano, em cada frente de lutas, todo dia, em todos os cantos e antros deste nosso país. Temos que ter clareza que a legitimação destes novos direitos civis e o empoderamento destes novos sujeitos sociais é um processo demorado, feito de avanços e recuos, passos e descompassos. Mas, ninguém consegue parar o tempo, nem a marcha da história, nem a força das contradições!

Em 2016 teremos outros campos e outras atalaias para defender o que já conquistamos, com a firmeza de quem sabe o preço destas conquistas, na consciência de nossa história cruel e excludente. A escola, como espaço de humanização e de formação para a cidadania, cultural e política, deverá tomar parte deste debate, desta construção, na direção da educação que emancipa e que produz o homem e a mulher para a vida em sociedade!

Mas é preciso ser revolucionário no conteúdo e na forma. Fazer acontecer a história da emancipação e da libertação de todos os grupos, subjugados e oprimidos, com traços de humanização e de superação, na direção da utopia! Em 2016 estaremos novamente atentos, para fazer valer a luta dos que deram o melhor de si, suas idéias e movimentos, alguns deram mesmo a própria vida, para que pudéssemos hoje viver o que estamos vivendo e ver o que estamos vendo acontecer! Para levar adiante estas causas, de humanização e de cidadania, com nossa consciência lúcida e crítica, seguida de nossa vontade esperançosa e propositiva!

O primeiro passo, na direção certa, já é a metade do caminho!

O primeiro passo, na direção certa, já é a metade do caminho!
Esta bela frase, como uma criteriosa máxima, derivada de uma iluminada filosofia de vida, é atribuída ao sábio oriental Lao-Tsé. Tenho muito apreço e admiração por este pensador, e pelas tantas frases ou fragmentos de seu pensamento, que permaneceram vivos na memória da civilização e da cultura humana universal. Ela me ajuda agora a realizar uma importante escolha! A decisão de assumir a tarefa de criar, de alimentar e de manter ativo e atualizado, um espaço de debates virtuais, um denominado blog, foi muito difícil! Explico as minhas razões. Gosto muito de escrever, sinto uma alegria imensa ao sentir que as pessoas acolhem e demonstram generosas ressonâncias sobre minhas pequenas postagens nas redes sociais, sobre alguns comentários que redijo na minha página pessoal, no endereço www.facebook.com/profcesarnunes ou em outros espaços, reais e virtuais, de comunicação e de diálogos. E, por gostar de escrever, tenho receio de escrever por demais, de não saber o limite, de estender por demais os textos, enfim, de acabar sendo impertinente e desmedido. Minha geração é conhecida por ser uma gente exagerada! Outro receio, o de não dar conta das coisas, de não corresponder ao ideal de um blog, de não saber responder às eventuais demandas, no tempo tão rápido, dinâmico e vertiginoso, da vida de hoje. Também não queria cair no pantagruélico mundo de banalidades e veleidades sem sentido. Tenho dúvidas de conteúdo e de forma! Fiquei meio perdido entre a projeção ideal e as dificuldades reais. Mas, ao cabo destas dúvidas, acabei sendo convencido de que deveria tentar escrever este blog! E decidi começar hoje, dia 11 de janeiro de 2016, dia em retomo minha exigente agenda, agora para o ano de 2016! Quero muito que seja um espaço de comunhão de ideais, de fortalecimento de convicções, de franqueza e de lealdade nas divergências, mas, sobretudo, de respeito à diversidade, ao pluralismo, à pluralidade de toda sorte e natureza. Espaço de acolhimento e de alegria, pontuado por debates, por opiniões e ressonâncias, por comentários e apontamentos, alguns criteriosos e conceituais, outros mais leves, próprios da primícia dos acontecimentos, alguns carregados de argumentações, outros como olhares, muitas vezes ainda impregnados pela força de nossa realidade! Como Lao Tsé dizia, sabiamente,
(…) um caminho de mil léguas começa com um primeiro passo! E este primeiro passo, na direção certa, já se traduz na metade do caminho!
creio que já demos juntos o primeiro passo. Venham comigo nesta caminhada!
César Nunes